Na vida de São Clemente Hofbauer, há um fato que mostra a força do perdão e da mansidão. Certa vez ele entrou numa taverna para pedir uma esmola para as obras que realizava. Um homem, Kalinski, o odiava, e estava presente. São Clemente entra, se dirige à mesa de Kalinski e pede uma esmola. ´Como é Kalinski, você não vai fazer nada ?´ falou alguém. Kalinski pegou o copo de cerveja que bebia, encheu a boca e despejou no rosto de São Clemente. Embora de índole colérica, o santo não se perburba. Puxou o lenço, limpou o rosto e disse ao agressor: ´Você já deu o que eu mereço. Agora, dê uma esmola para meus pobres´. A atitude do santo desconcertou Kalinski e os demais do grupo. Na mesma noite Kalinski mandou a São Clemente um saquinho de moedas de ouro e, arrependido e penitente, tornou´se grande amigo e colaborador do santo. É a força da mansidão e do perdão. Isto é amontoar brasas ardentes sobre a cabeça do pecador.
Para praticarmos essa bela virtude é preciso estarmos convencidos de sua beleza, eficácia e poder, pois o mundo nos ensina o contrário: ´bateu, levou!´ Jesus ensina o oposto: ´bateu, dê´lhe a outra face!´ É certo, como dois mais dois são quatro, que o agressor ficará desconcertado e envergonhado do seu gesto. Senão na hora, depois, quando esfriar o seu sangue. As brasas do amor foram acumuladas sobre a sua cabeça...
Estou convencido de que esta é a maior prova para o cristão: ´pagar o mal com o bem, amar o inimigo, orar pelo que te persegue...´. Não é fácil perdoar e orar pela mulher que levou o seu marido; pelo rapaz que assassinou o filho; pelo ladrão que roubou o seu carro; pelo sujeito que te humilhou em público, etc,etc,etc... Não é fácil ! A natureza reage, esperneia, quer vingar´se, quer o revide, quer beber o sangue do outro... Só pela graça de Deus é possível, pois, como disse Santo Agostinho: ´o que é impossível à natureza, é possível à graça´.
Quando olho para Jesus crucificado, a lição mais forte que aprendo é essa: ´Eu que sou Deus, morri crucificado, perdoando os meus algozes. Faças o mesmo se queres ser cristão´. Não há mérito maior diante de Deus.
Que o Teu preciossíssimo Sangue caia sobre nós Senhor, e nos conceda essa graça.
A mansidão deve ser vivida em pensamentos, palavras e atos. No trato com as pessoas é preciso ser cordial, bem´humorado, ter o sorriso nos lábios e ser paciente com os defeitos dos outros, principalmente quando esses nos irritam. Se Jesus sofreu tanto, sem perder a calma e a paz, porque não podemos aceitar os pequenos defeitos dos outros?
São Francisco de Sales diz que: ´Não há nada que tanto edifique o próximo como a caridosa benignidade nos tratos´. Nunca ele repreendia alguém com agressividade; apenas os advertia dos seus erros com bondade. O seu grande amigo, São Vicente de Paulo, admirava a sua mansidão e aprendeu com ele a ser manso. Dizia também: ´Para os superiores, não há melhor meio de se fazer obedecer do que a mansidão´.
É preciso evitarmos o mal hábito que às vezes temos de repreender os outros com aspereza, com raiva e nervosismo, pois isto faz mais mal do que bem a quem queremos corrigir. Muitos pais enganam´se muito neste ponto e corrigem os filhos com agressividade, por palavras e atos. É um mal. São Paulo diz aos pais: ´Não exaspereis os vossos filhos. Pelo contrário, criai´vos na educação e na doutrina do Senhor´ (Ef 6,4). Não exasperar o filho, é não deixá´lo com raiva de nós, pais. É preciso saber corrigir os filhos, com paciência, bondade e mansidão, na hora oportuna e sem humilhar o filho na frente dos outros, principalmente dos seus amigos. Não devemos também corrigir uma pessoa quando ela estiver irritada, pois ela ficaria ainda mais exasperada, ao invés de fazê´la mudar o seu comportamento. Espere a pessoa se acalmar.
Jesus foi manso e bondoso com os pecadores: Com a samaritana no poço de Jacó, com Zaqueu, com Madalena, com Pedro após negá´lo três vezes, e até com Judas no horto das Oliveiras. ´Judas, é com um beijo que me trais? Com um beijo trais o Filho do Homem?´ (Lc 22,48). Para Pedro foi um olhar de bondade: ´O Senhor voltou´se e olhou para Pedro´ (Lc 22,48´61). Esse olhar de bondade de Jesus fez correr as lágrimas de arrependimento dos seus olhos.
São Vicente de Paulo ensinava que: ´A afabilidade, o amor e a humildade tem uma força maravilhosa para ganhar os corações dos homens e levá´los a abraçar as coisas mais desagradáveis à natureza humana´. E dizia ainda que: ´O espírito infernal se serve do rigor de alguns para causar maior dano às almas´.
Diz o livro dos Provérbios que:
´Uma resposta branda aplaca o furor, uma palavra dura excita a coléra´ (Pr 15,1). É preciso saber calar quando estamos com o sangue fervendo nas veias. Uma coisa é certa: só dizemos coisas erradas quando estamos inflamados pela paixão. Depois ficamos com vergonha de nossas palavras e atitudes destemperadas. Saber calar na hora do aborrecimento e da irritação é grande sabedoria e mansidão. São Francisco de Sales disse: ´Eu nunca me deixei conduzir pela ira sem que logo me tenha arrependido´. Penso que cada um de nós pode fazer suas essas palavras do santo.
É preciso também ser manso consigo mesmo. Não se irritar com as próprias faltas. Santo Afonso de Ligório ensina´nos que: ´Irritar´se contra nós mesmos, após uma falta, não é humildade, mas refinada soberba, como se nós não fossemos fracos e miseráveis criaturas´. Santa Teresa dizia: ´A humildade que irrita não vem de Deus, mas do demônio´.
O grande perigo, de zangar´se contra si mesmo após uma falta, está no fato de deixar a alma perturbada e, nesse estado deixa´se a oração, a comunhão e as demais práticas da piedade, ou então as fazemos mal. Santo Afonso afirma que: ´Uma alma perturbada pouco conhece a Deus e aquilo que deve fazer´.
Após uma falta é preciso voltar´se com humildade e confiança para Deus, e dizer como Santa Catarina de Gênova: ´Senhor, estas são as ervas daninhas do meu jardim´.
Na Oração de Judite ela diz: ´Os soberbos nunca vos agradaram, mas sempre vos foram aceitas as preces dos mansos e humildes´ (Jd 9,16).
Ninguém e nada rouba a paz de quem tem o coração manso e humilde, e é neste sentido que eles ´possuirão a terra´ (Mt 5,4).
Os santos ao invés de odiarem aqueles que os maltratavam, os amavam ainda mais, e oravam por eles, porque sentiam pena deles. Santa Teresa dizia que: ´As pessoas que falam mal de mim, parece que eu as amo com mais amor´.
Uma coisa é certa ´ afirmam os santos ´ só possui a mansidão quem cultiva a humildade, e tem pouco conceito de si mesmo. É preciso, por exemplo, saber receber as correções que os outros nos fazem, com mansidão e sem revolta. São Francisco de Sales dizia que isto ´é um grande sinal de progresso na perfeição´. É muito difícil encontrar alguém que, ao ser corrigido, não fique se desculpando e se defendendo. É um ótimo exercício de humildade e mansidão calar´se ao ser corrigido por alguém, mesmo tendo´se certa razão. O fato de ficarmos ofendidos quando somos criticados é sinal forte de que precisamos dessa crítica. ´Aquele que odeia a correção segue os passos do pecador´ (Eclo 21,7).
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